As fotografias, como qualquer representação da figura humana, eram proibidas pelos talibãs. Mas, em segredo, muitos dignitários do regime não só se faziam fotografar como pediam para serem retratados sobre cenários idílicos e, até, que o fotógrafo os embelezasse retocando os retratos.
Arte escondida
Mohammed Asefi, mostrando como preservou uma parte da herança cultural afegã: escolhendo os mesmos tons, e depois de ter feito várias experiências, cobriu as figuras humanas de várias dezenas de quadros a óleo com paisagens a aguarela. Agora é só lavar os quadros com uma esponja, para fazer surgir os originais
«Isto é surrealista!!» O comentário, simples de perceber até para quem nunca desenvolveu qualquer relação com a arte, provocou curiosidade. O jovem afegão que o ouviu questionou: «O que é surrealista?» Tornava-se claro que para além do sentido comum da expressão - cujo significado lhe escapava - havia um vazio de conhecimentos em matéria de arte. Sabe-se agora que por causa de um estilo «impressionista» bastante particular - habilmente desenvolvido por um médico e pintor afegão, Mohammed Yousof Asefi - será possível recuperar uma parte da pintura existente no Afeganistão antes da chegada dos talibãs ao poder e explicar aos jovens que a arte de pintar não serve apenas para decorar fachadas de lojas.
Durante cinco anos, e por imposição política, os únicos artistas que sobreviveram ao regime do «mullah» Omar limitaram-se a pintar letreiros publicitários a pedido dos comerciantes. Mas, mesmo assim, segundo regras bastante restritas: aos nomes a anunciar graficamente, estes artistas só podiam acrescentar elementos como flores ou paisagens.
E foi exactamente nesses elementos que Asefi se tornou especialista, nos últimos anos. Para impedir que muitos quadros fossem parar à fogueira dos estudantes de Teologia, Asefi pintou paisagens idílicas ou motivos florais por cima das zonas das telas que mostravam figuras humanas ou animais.
Além de terem silenciado os músicos e até os pássaros (também proibidos dentro das casas), os talibãs excluíram da vida a televisão, a pintura, a fotografia, o cinema e a escultura. Erradicaram todos os vestígios da expressão artística. A memória da arte anterior à chegada destes homens ao poder e os objectos que o Museu de Cabul conseguiu manter até essa altura (1996) eclipsaram-se por ordem política, deixando uma geração sem qualquer contacto com a expressão visual. Nalguns casos foram mesmo destruídos. Foi aliás face à notícia da destruição de mais de 20 quadros no Palácio Presidencial de Cabul que Asefi se atirou ao trabalho para salvar outras obras. Passado o choque (Asefi esteve 10 dias sem dormir), o pintor fechou-se numa cave e começou a testar um processo para encobrir as figuras «indesejáveis» das suas próprias telas. Mais tarde fez o mesmo a outros 80 quadros a óleo, de outros autores. Com tintas de água foi cobrindo as imagens originais.
A libertação de Cabul permite-lhe agora fazer renascer os quadros originais à simples passagem de uma esponja. Desaparecem as paisagens impressionistas e voltam as figuras humanas. O trabalho que efectuou às escondidas nunca chegou a ser descoberto pelos homens da polícia religiosa, bastante incultos.
A destruição da cultura afegã e do museu é, porém, anterior aos talibãs. Situado na imediação de edifícios políticos, o museu foi várias vezes vítima das batalhas entre mujaedines. Esventrado, roubado, tornou-se local de afirmação militar. Os tanques tomaram o lugar dos quadros e das esculturas e ao longo dos últimos anos foram expostos na qualidade de obras de arte. Face a este quadro temeu-se, não sem razão, que todas as peças de arte existentes no Afeganistão tivessem levado o mesmo caminho que os grandes budas de Bamian. E, de resto, assim teria sido não fossem as histórias de resistência de que Asefi é exemplo maior.
DEVE SER NA QUELE PAIS LÃ QUE AS MULHERES NÃO PODEM MOSTRAR O ROSTO, SAIR NA RUA SOZINHA, TRABALHAR, ASSISTIR TV, CONVERSAR COM OUTRO HOMEM....ACHO QUE ESSE PAIS Ã UM INFERNO Ã NESSAS HORAS QUE DOU GRAÃAS A DEUS POR SER BRASILEIRA..
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Oi,
Em Talibã, no Afeganistão.
26/1/2002
As fotografias, como qualquer representação da figura humana, eram proibidas pelos talibãs. Mas, em segredo, muitos dignitários do regime não só se faziam fotografar como pediam para serem retratados sobre cenários idílicos e, até, que o fotógrafo os embelezasse retocando os retratos.
Arte escondida
Mohammed Asefi, mostrando como preservou uma parte da herança cultural afegã: escolhendo os mesmos tons, e depois de ter feito várias experiências, cobriu as figuras humanas de várias dezenas de quadros a óleo com paisagens a aguarela. Agora é só lavar os quadros com uma esponja, para fazer surgir os originais
«Isto é surrealista!!» O comentário, simples de perceber até para quem nunca desenvolveu qualquer relação com a arte, provocou curiosidade. O jovem afegão que o ouviu questionou: «O que é surrealista?» Tornava-se claro que para além do sentido comum da expressão - cujo significado lhe escapava - havia um vazio de conhecimentos em matéria de arte. Sabe-se agora que por causa de um estilo «impressionista» bastante particular - habilmente desenvolvido por um médico e pintor afegão, Mohammed Yousof Asefi - será possível recuperar uma parte da pintura existente no Afeganistão antes da chegada dos talibãs ao poder e explicar aos jovens que a arte de pintar não serve apenas para decorar fachadas de lojas.
Durante cinco anos, e por imposição política, os únicos artistas que sobreviveram ao regime do «mullah» Omar limitaram-se a pintar letreiros publicitários a pedido dos comerciantes. Mas, mesmo assim, segundo regras bastante restritas: aos nomes a anunciar graficamente, estes artistas só podiam acrescentar elementos como flores ou paisagens.
E foi exactamente nesses elementos que Asefi se tornou especialista, nos últimos anos. Para impedir que muitos quadros fossem parar à fogueira dos estudantes de Teologia, Asefi pintou paisagens idílicas ou motivos florais por cima das zonas das telas que mostravam figuras humanas ou animais.
Além de terem silenciado os músicos e até os pássaros (também proibidos dentro das casas), os talibãs excluíram da vida a televisão, a pintura, a fotografia, o cinema e a escultura. Erradicaram todos os vestígios da expressão artística. A memória da arte anterior à chegada destes homens ao poder e os objectos que o Museu de Cabul conseguiu manter até essa altura (1996) eclipsaram-se por ordem política, deixando uma geração sem qualquer contacto com a expressão visual. Nalguns casos foram mesmo destruídos. Foi aliás face à notícia da destruição de mais de 20 quadros no Palácio Presidencial de Cabul que Asefi se atirou ao trabalho para salvar outras obras. Passado o choque (Asefi esteve 10 dias sem dormir), o pintor fechou-se numa cave e começou a testar um processo para encobrir as figuras «indesejáveis» das suas próprias telas. Mais tarde fez o mesmo a outros 80 quadros a óleo, de outros autores. Com tintas de água foi cobrindo as imagens originais.
A libertação de Cabul permite-lhe agora fazer renascer os quadros originais à simples passagem de uma esponja. Desaparecem as paisagens impressionistas e voltam as figuras humanas. O trabalho que efectuou às escondidas nunca chegou a ser descoberto pelos homens da polícia religiosa, bastante incultos.
A destruição da cultura afegã e do museu é, porém, anterior aos talibãs. Situado na imediação de edifícios políticos, o museu foi várias vezes vítima das batalhas entre mujaedines. Esventrado, roubado, tornou-se local de afirmação militar. Os tanques tomaram o lugar dos quadros e das esculturas e ao longo dos últimos anos foram expostos na qualidade de obras de arte. Face a este quadro temeu-se, não sem razão, que todas as peças de arte existentes no Afeganistão tivessem levado o mesmo caminho que os grandes budas de Bamian. E, de resto, assim teria sido não fossem as histórias de resistência de que Asefi é exemplo maior.
Um abraço
DEVE SER NA QUELE PAIS LÃ QUE AS MULHERES NÃO PODEM MOSTRAR O ROSTO, SAIR NA RUA SOZINHA, TRABALHAR, ASSISTIR TV, CONVERSAR COM OUTRO HOMEM....ACHO QUE ESSE PAIS Ã UM INFERNO Ã NESSAS HORAS QUE DOU GRAÃAS A DEUS POR SER BRASILEIRA..
No paÃs dos macacos.
afeganistão
PAÃS DAS MARAVILHAS.
Afeganistão.